sexta-feira, novembro 10, 2006

Ata-contraponto

Sobre o papel branco que contém o azul do céu,
o olhar oblíquo, olhar distraído, que capta e opera plasticidades,
desarmado experimenta o conhecido como se fosse novo,
investiga o que vê a partir apenas da experiência,
transforma esta experiência em descoberta, de novas plasticidades,
que possam incorporar estes atributos, compartilhar este olhar primeiro,
anterior, destituído da palavra, numa busca calada, incessante,
necessária do humano, da subjetividade que discorre e escorre num tempo lento,
sem direção ou com infindas direções, na contramão do ordinário,
criando, desfazendo, refazendo a partir da inquietude, da impossibilidade e de constantes fracassos, espelho de nossas imperfeições, de nossa pequena estatura, de nossa poesia.
Contribuição de Anete
Anotações

Projeto poético -

Ata-contraponto

Sergio Fingerman em suas orientações expõe: “ não se deve pintar o tema, mas deixar o pictórico acontecer”. A narração como travessia: estar no lugar e não na coisa contada, assim como na pintura. Deixar o tempo acumulado, o caminho, o percurso, na coerência e compreensão do que a imagem é. A relação desta imagem com a experiência, solicitando um olhar arqueológico, refazendo o processo neste acúmulo de experiências. A narrativa “não linear”, mas no seu devir”.

“Ser imagem” – aquilo que não se mostra. A partir da experiência da sombra, há à ficção, pois é na ilusão que se constrói o teatro. E como teatro ilude, no enunciado subtraído, o tempo que é outro – devemos desconfiar do tema. O tema é artifício”.

“É na ação do tempo que surge a ilusão, a experiência”.

“Entre a pintura e o expectador – o artista deve produzir deslocamentos”.

“A pintura como processo e não como artifício”. Ficar atento ao encantamento que produz o fazer – desejo que embaça o olhar. Vivenciar o fracasso – todo obra é esta travessia, no acúmulo de trajetórias”.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Arquivo aulas teóricas 2004

Arquivo 2004 - Aulas Teóricas



Sergio Fingermann


Artista citado : Edward Hopper ( 188261967) – “ Teve um inicio ligado ao impressionismo. O tema em seus trabalhos é o segundo plano – o que importa é o meio de expressão. Há um sentimento em seus trabalhos que provocam, não o deleite, mas o vazio, o estranhamento, ele limpa, tira o afeto. A luz causa mal estar, congelamento. A coisa é vista pelo ato de pintar. O sol nele é frio, distante. Os objetos não são tratados como fazem os impressionistas. Os momentos são congelados, causam mal estar, vazio. Olhar que leva a distância.

Há vários tons de sombras, é uma pintura contemporânea – atemporal- trazem o estado de sonho, alheamento.

Pintor construtor – humanista, denuncia a vida, as virtudes da pintura, mostra o que não é narrado, traz a questão metafísica de transcendência.”


Comentários:
Hopper, aos 24 anos, foi a Paris e descobriu a poesia de Baudelaire, cuja obra leu e recitou a vida inteira, e essa paixão não é difícil de entender, para alguém preocupado com a solidão, a vida urbana, a modernidade, pela dor e pela noite, temas sugeridos em seus trabalhos.
“As figuras parecem estar sempre longe de casa, sozinhas, olhando para uma xícara com os pensamentos para seus problemas, num gesto introspectivo, vulneráveis, com a carga de sentimentos estampados em seus gestos. Estão sempre em lugares transitórios, impessoais, anônimos, como alguém que chega numa estação e espera , e os lugares abertos, amplos tornam-se medonhos de silêncio.” ( sensações que tenho quando olho para os quadros de Hopper,)

quarta-feira, novembro 08, 2006

Arquivo agosto.06


Ata-Contraponto

Referencia: Assistir o filme Estamira
Exposição do Banco Real na Av. Paulista
Exposição “ Pinceladas “ no Instituto Tomie Otake até 24 de setembro


" Narrativa na pintura ": é sempre uma questão metafísica e deve sofrer tensões, o esgarçamento das camadas.

A cor precisa ter sessões anteriores – o pintar como experiência de territórios ( não entupir a pintura).

“ Até a noite contêm claridades” -

O mais escuro no trabalho é inominável. Sempre é aquilo que não se mostra e não se esclarece.

Procurar a distância que promove a solidão, os caminhos que interagem neste processo.

O escuro não se mostra.”

Aula proferida por Sergio Fingermann

Arquivo agosto.2006

Reflexão Ata Contraponto

Procurando ampliar nossa discussão sobre “o que é arte” dentro da possibilidade de buscar o “foco”, como nos alerta Sergio Fingernann, seja nas exposições teóricas sobre o assunto, seja em nosso trabalho artístico ; dizendo ele que : “toda arte é uma forma de verdade”, e verdade esta que corresponde a individualidade que cada um conquista em seu trabalho.
E, se toda busca está inserida na maneira singular de ver as coisas, onde anexamos territórios, por vezes já explorados, e por vezes ainda a serem ditos, lembrei-me de um trecho do Livro do Saramago ( Manual da Pintura e Caligrafia), indicado por Sergio a um tempo atrás, que ao meu ver reforça a idéia desta busca de identidade que nos acompanha o fazer na arte, onde ele diz: .

“ A tela branca, lisa, ainda, sem preparo, é uma certidão de nascimento por preencher, onde eu julgo ( amanuense de registro civil sem arquivo) que poderei escrever datas novas e filiações diferentes que me tirem, de vez, ou ao menos por uma hora, desta incongruência de não nascer. Molho o pincel e aproximo-o da tela, dividido entre a segurança das regras aprendidas no manual e a hesitação do que irei escolher para ser”.

Portanto, manter o” foco” e não a “dispersão” é encontrar-se nesta identidade, onde nascem as dúvidas, as incertezas, e um tentar que acrescenta uma reflexão: qual é a verdade de uma pintura?.


Agosto 2006

Contraponto Arquivo

Comentários Anete


Ata-contraponto comenta:


“Uma vista breve de campo, por cima de um muro dos arredores, liberta-me mais completamente do que uma viagem inteira libertaria outro. Todo ponto de visão é um ápice de uma pirâmide invertida, cuja base é indeterminável.” Fernando Pessoa em “ Livro do Desassossego “


Ata- contraponto comenta:

Outubro/ 04/ 06

Conversamos hoje no ateliê sobre a proposta de buscar textos, músicas, imagens, filmes, cheiros, memórias, que nos ajudem a aprofundar nossas buscas.
Encontrei este texto do Fernando Pessoa, e senti uma imediata sintonia, relacionada a questão da distância que permeia minhas buscas.
Compartilho com vocês.



Ata-contraponto comenta:


Queremos nos propor a criar 8 perguntas que possam orientar uma nova série de encontros com artistas.
Questões para orientar o olhar.

- a poética
- os temas
- as afinidades,
- os contrastes,
- as referências
- os agrupamentos
- o território / a topologia
- a imagem e a emergência

E incluir uma 9 ª questão: “ em que momento se faz o ver”

- na inquietude e quietudes
- nas pausas e silêncios
- nos sucessivos fracassos